terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Para manterem-se magras, mulheres trocam a comida pelo álcool. A doença já ganhou nome: drunkorexia

Veículo: A Notícia
Seção: Joinville
Data: 06/12/2009
Estado: SC

Embora esteja no peso ideal ou ligeiramente abaixo dele, Camila* jamais descuida do corpo. Se preocupa com a silhueta a ponto de seguir um treino diário na academia e excluir totalmente os doces e as frituras do cardápio. Já Larissa* obedece a um menu ainda mais espartano: além de gorduras e doces, não come massas, e ainda assim, acha que não se preocupa o suficiente com o corpo. Psicóloga e publicitária moram em Florianópolis, têm pouco mais de 30 anos e, além de dividirem a preocupação excessiva com o corpo, têm outro ponto em comum: os regimes restritivos que seguem não excluem excessos alcoólicos frequentes. No prato, saladinha. No copo, vinho, cerveja, champanhe ou vodka.

Substituir refeições por álcool, trocar as calorias de grupos alimentares por aquelas contidas nas bebidas ou ainda utilizá-las para aplacar a ansiedade e o vazio no estômago geram um comportamento de risco que recentemente foi batizado de alcoolrexia, anorexia alcoólica ou drunkorexia (drunk significa bêbado em inglês). Os nomes não são oficiais, assim como o comportamento não é considerado um transtorno alimentar, mas especialistas alertam para o aumento do número de meninas que apresentam esse traço.

“A valorização cultural da magreza e a aceitação social do uso de álcool pelos jovens têm provocado o aumento de casos, mas não há dados definitivos sobre quantas pessoas apresentam este tipo de comportamento”, explica Eduardo Wagner Aratangy, supervisor do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Mulheres com essas características já procuraram especialistas de Santa Catarina. “A preocupação com as calorias é tanta que o mínimo que ela se permite usa no álcool. Elas não querem abrir mão disso, então, não comem quase nada. Em outros casos, a bebida pode tirar a fome”, explica a nutricionista Isabela Sell. Seja por mecanismos calóricos ou cerebrais, o álcool, de fato, pode dar a sensação de saciedade.

“O álcool libera dopamina, neurotransmissor que diminui a ansiedade. Quando estamos com fome ficamos mais ansiosos. O álcool relaxa. Ele também tem um aporte calórico, mas não tem proteína nem aminoácido”, explica o psiquiatra Marcos Zaleski. A combinação entre abuso de álcool e falta de nutrientes pode causar desnutrição e gastrite, além de lesões hepáticas que podem resultar em hepatite e câncer. Do ponto de vista psiquiátrico, pode provocar ansiedade e depressão.

* Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas.

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