Brasília, 21 ago (EFE).- Em Brasília, se consomem duas toneladas de cocaína por ano, segundo os resultados de um projeto piloto da Polícia Federal capaz de localizar e medir os pontos de consumo da droga pela análise dos resíduos do esgoto.
O perito criminalista Adriano Maldaner, da Polícia Federal, afirma à Agência Efe que o método permite identificar onde se consome ou se produziu a cocaína e "até determinar o consumo específico em um bairro da cidade".
Maldaner ressalta que esse método científico é muito mais confiável e rápido que os anteriores, baseados em pesquisas nas quais se perguntava ao próprio usuário de drogas. Quando raramente alguém admitia, era pedido que especificasse quanto consumia.
O projeto, batizado de Quantox, foi desenvolvido pela Polícia Federal de Brasília junto com especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de Brasília (UnB) e Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb).
Um dos professores que participaram do projeto, Fernando Sodré, explica à Efe que a cocaína consumida passa por metabolismo e, poucas horas depois, é expelida pela urina.
Dessa maneira, é possível "determinar em que quantidade se consume droga em uma determinada área geográfica" por meio da análise das águas do esgoto, indica.
Pelos resíduos recolhidos nos esgotos, os pesquisadores identificam a concentração da cocaína e da benzoilecgonina, uma substância expelida pela urina, produzida com o consumo da droga.
Os peritos usaram amostras de águas residuais em seis estações de tratamento de Brasília entre março e junho passados por meio de duas recolhidas, e a partir do resultado fizeram um cálculo do consumo de cocaína anual na cidade.
As análises, de tão precisas, permitem até mesmo saber onde se consome e onde se produz ou processa a droga, caso em que a concentração de benzoilecgonina nas águas é maior.
A explicação é que os traficantes, ao lavar seus equipamentos na pia ou descartar os resíduos do processo no ralo ou no vaso sanitário, descarregam uma maior quantidade de resíduos da droga pelo encanamento.
Os pesquisadores descobriram que em áreas onde há um maior consumo de drogas, a proporção entre benzoilecgonina e cocaína pura é de quatro partes por uma. Já quando se registra mais concentração de droga pura é porque existe um laboratório de produção ou refino na área.
Segundo os resultados deste ano da Polícia Federal, em Brasília são consumidas 2 toneladas de cocaína anualmente, uma média de sete gramas diários por cada um dos 2,2 milhões de habitantes da cidade.
Maldaner avalia que esse dado também serve para traçar perfis sobre a eficácia do combate às drogas já que, em 2009, foram apreendidos em Brasília 350 quilos de cocaína, que antes do Quantox podiam até parecer muita coisa, mas hoje se sabe que representam uma mínima parte de toda a droga circulante pela capital.
Este projeto começa agora a ser introduzido no Brasil, mas já é conhecido em outros países. Na Itália, um instituto de pesquisa de Milão desenvolveu em 2005 um método para calcular o consumo de cocaína mediante a análise da água dos rios e esgotos da cidade.
Sodré explica que a diferença entre o Quantox e os projetos desenvolvidos em outros países é a "colaboração" entre os cientistas e a Polícia Federal, que lhe acrescenta a aplicação prática na "luta contra o tráfico de drogas".
O pesquisador destaca também o fato de que este sistema permite determinar o consumo da cocaína de uma população em nível local, "preservando o anonimato" dos indivíduos.
O objetivo agora é estender o método a outras cidades e a outras drogas, como a heroína e a maconha. No entanto, ainda devem ser identificadas as moléculas dessas substâncias que são mais adequadas para o exame, para então fazer um mapeamento quantitativo e qualitativo das drogas consumidas pela população.
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