segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Especialistas: ao fumar crack, Jóbson buscou o impossível

Especialistas concordam: uso do crack não traria qualquer benefício a Jobson nos gramados

Terra.com.br - Paulo Murilo Valporto - Direto do Rio de Janeiro
Suspenso dois anos pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o atacante Jóbson, ex-Botafogo, admitiu durante o seu julgamento, na última terça-feira, que é usuário de crack. O jogador, 22 anos, é o primeiro caso no Brasil de um atleta profissional flagrado por uso desta droga - derivada da cocaína - que, atualmente, é a que mais causa estragos na sociedade brasileira. Segundo especialistas, ele tentou o impossível, pois o consumo constante da substância o impediria de manter um alto rendimento como jogador.
Em 1991, Maradona era do Napoli, da Itália, quando foi pego pela primeira vez num exame antidoping por uso de cocaíca. Outros craques da bola fizeram a mesma coisa, como Paulo César Caju, tricampeão mundial com a Seleção Brasileira em 70. Mas todos eles estavam decadentes, em final de carreira ou já tinham se aposentado.
Além disso, o crack é bem mais devastador que a cocaíca para o organismo.
"É a droga mais poderosa atualmente no mercado brasileiro. Por ser fumada, chega rapidamente ao sistema nervoso central, levando o indivíduo a uma dependência forte, em muito pouco tempo", afirma o psiquiatra Mauro Campos da Paz, 40 anos, coordenador da Comunidade Terapêutica São Tomé, em Maricá, que atende dependentes químicos com serviço de internação.
Campos da Paz explca que o consumo de pedras de crack é incompatível com a atividade de um jogador profissional. "É totalmente impossível, não somente para um atleta que depende do rendimento físico, como para qualquer atividade profissional, seja ela qual for. Porque, em qualquer uma delas, é exigido um comportamento minimamente estável para ter sucesso".
A psicóloga Heloísa Máximo, coordenadora do Programa de Saúde Mental do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, concorda com Campos da Paz sobre a incompatibilidade entre o crack e a prática esportiva. Os casos de uso da droga que devasta a sociedade têm personagens cada vez mais jovens, o que a deixa alarmada.
"O crack é um flagelo que atinge principalmente as pessoas que vivem nas comunidades mais pobres e nas favelas. Se isso aconteceu com um jogador profissional, imagina entre os garotos, nas categorias de base! Em poucos meses, o sonho de futuro pode virar fumaça".
Recuperação, um caminho necessário
Ao deixar o plenário do STJD, o advogado de Jobson, Carlos Portinho, disse que o jogador vai se internar numa clínica de recuperação, no interior paulista. Diante dos magistrados, o atleta disse que fumava pedras de crack desde 2009, quando estava no Brasiliense. Pouco antes de ser condenado, o Cruzeiro estava prestes a adquirir o seu vínculo federativo por R$4,5 milhões.
Para Campos da Paz, Jobson está certo ao buscar uma internação. "Quando a dependência se instala, há duas possibilidades: grupos de mútua ajuda - como os Narcóticos Anônimos e outros - ou as comunidades terapêuticas, sempre com acompanhamento psiquiátrico. Muitas vezes é preciso usar medicações para reduzir o grau de ansiedade, que, nos dependentes de crack, é elevadíssimo com a abstinência".
Assim como a maconha e a cocaína, o crack é considerado uma "droga social", pois o consumo não está relacionado à busca de melhor desempenho nos esportes. De acordo com um recente levantamento da Fifa, dos cerca de 20 mil exames antidoping realizados por ano em jogadores de futebol, apenas 1% apresenta resultado positivo, e, ao contrário do que acontece em outros esportes, na maioria das vezes devido às "drogas sociais".

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