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Por causar um "barato instantâneo", o crack desbancou a cocaína injetável e chegou à elite paulista. Levantamento realizado entre os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) do Estado confirma uma antiga percepção das clínicas particulares: pacientes com renda mensal (pessoal ou familiar) superior a 20 salários mínimos (R$ 9.300) somam 15% das pessoas em tratamento público por dependência da "pedra". Em 2006, o mesmo grupo respondia por 12% do total.
Os dados são da Secretaria de Estado da Saúde e revelam que a escalada do crack na classe média foi ainda mais expressiva do que em outros segmentos sociais. Enquanto no público mais endinheirado o aumento de pacientes em tratamento por crack e outras drogas foi de 2,55 vezes (saindo de 152, em 2006, para 388 no ano passado), no restante da população o crescimento foi de 1,7 vez (de 1.538 para 2.638).
"Seja misturado ao cigarro, à maconha ou a qualquer outra substância, a novidade nos 20 anos de história do crack em São Paulo é a chegada (da droga) às classes mais favorecidas", afirma Luizemir Lago, responsável pela Política Antidrogas estadual. "Outro motivo para a estatística é que quanto mais estruturada a família, mais rápido é a procura pelo tratamento. Ninguém traz as crianças de rua, por exemplo, ao sistema. É mais difícil."
Os dependentes de crack em tratamento também estão um pouco mais novos. Antes, a idade média era de 30 anos e hoje é de 29. "A cocaína injetável foi totalmente substituída pelo crack", afirma Pablo Roig, diretor da Clínica Greenwood. Na entidade - que cobra mensalidades de R$ 12 mil -, o crack "ocupa" 30% das 40 vagas disponíveis. "Essa droga atende ao imediatismo do usuário. O dependente perde a habilidade de lidar com frustrações, e uma das grandes frustrações é a espera", diz.
Segundo Roig, não existe nenhuma situação da vida que estimule tanto a "região da recompensa" do cérebro quanto a cocaína e o crack. Por isso, usuários pagam os R$ 10 pela pedra - viagem pouco onerosa para a classe média, mas que inclui depressão profunda, paranoia e mal-estar.
Além de dados clínicos, operações policiais endossam que não são só moradores de rua que dão cara para a dependência do crack. Policiais do 4º Distrito Policial (Consolação), região central de São Paulo, identificaram um ponto de tráfico de drogas que afirmam abastecer os frequentadores dos bares e casas noturnas das Ruas Augusta, da Consolação e Frei Caneca, pontos nobres da cidade.
Nas duas operações deflagradas após estudos feitos pelo delegado titular, João Gilberto Pacífico, os quatro traficantes presos na altura do número 200 da Rua Paim vendiam crack. O local fica em uma viela entre duas "favelas verticais", o que dificulta a ação policial.
CRIANÇAS DO RIO
No Rio, onde as facções criminosas só "liberaram" o crack recentemente, a pedra escreve história semelhante à de São Paulo. São as crianças de rua as primeiras a cair no vício. Hoje, menores de 19, alguns de 10, somam 1.040 entre os dependentes de crack, diz o governo estadual. (AE)
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